No leito
Os bips eram perturbadores. Angélica havia sofrido um grave acidente de carro enquanto ia para o trabalho e estava dias internada sem previsão de alta. Ela havia sofrido várias fraturas e havia perdido muito sangue.
Seu namorado Ricardo, homem com quem ela namorava a três anos e recentemente haviam ficado noivos, estava agora ali, ao lado dela segurando sua mão delicada e fraca.
-- Angélica, eu estou aqui. Sou eu, o Ricardo. Você pode me ouvir?
A moça suspirou e deu um leve gemido cansado:
Claro! Posso te sentir, te reconhecer. Só não faço ideia de quanto tempo estou aqui.
Ela disse com voz fraca.
-- três semanas. Você ficou em coma, perdeu muito sangue, e a notícia que você havia despertado foi uma alegria para nós, para todos nós.
ele enxuga disfarçadamente uma lágrima. Ele não quer que sua noiva perceba toda sua apreensão.
- Cadê a minha mãe? Meu pai? Eles não vem me ver?
Ela pergunta. Ele congela. Seus pais haviam morrido no acidente e já tinham sido velados e sepultados a muito tempo.
Toda vez que saía para trabalhar, Angélica aproveitava para deixar seus pais no ponto onde eles pegariam o ônibus da empresa, que fazia uma rota totalmente diferente do trabalho dela. Porém, eles nunca chegaram à empresa, assim como Angélica nunca chegou ao trabalho. Estava ali, internada entre vida e a morte, sem saber que seus pais já haviam partido.
Ricardo suspirou, disfarçou e deu-lhe uma resposta:
-- Eles virão, é preciso que você tenha um pouquinho só de paciência e eles logo estarão aqui.
A mulher gemeu mais uma vez
- Minha cabeça dói muito!.
Eu sofri alguma coisa grave?
- Bem...
Ricardo diz:
- Você sofreu um traumatismo craniano querida, e isso não é tão simples. Os médicos estavam até achando que você perderia a memória, mas graças a deus você está reagindo muito bem.
Ela sorriu:
- Isso significa que eu irei sair daqui, nós iremos casar e ter os nossos tão sonhados filhos, não é?
Ricardo soluça. as lágrimas agora foram inevitáveis:
- É tudo que eu mais quero querida.
Ele continua a chorar. O motivo de seu pranto era uma mistura de emoção e medo. Ele lembra bem do diagnóstico que o médico havia lhe dado sobre um coágulo que se formou em seu cérebro que se fosse operado, colocaria em risco a vida dela, e a moça estava tomando anti--coagulante na veia para ver se aquilo seria desfeito, ou se a bomba relógio em seu cérebro iria explodir.
A esperança da medicina era que sim, que as drogas anticoagulantes fizessem efeito. Daqui a umas duas horas, ela passaria por uma tomografia para ver o estado do coágulo.
- Não chore querido! Precisamos ser otimistas!
se eu acordei e estou aqui, significa que temos muito o que viver. Você vai terminar a sua faculdade de economia, eu vou terminar a minha em veterinária, e nós vamos ser muito felizes.
Você confia em mim?
Ela pergunta com aquela fraca voz:
- Sim meu amor, eu confio.
Ele inclina-se, e beija levemente seus lábios. Ela sorri:
- Parece que foi ontem que nós estávamos nos beijando tão intensamente. Parece que foi ontem que estávamos acordando juntos lá na sua casa.
- Mas em breve, teremos tudo isso de novo. Nós vamos viajar, lembra? Eu nãoo me esqueci daquela viagem que você quer fazer, só eu e você.
Ele sorriu. Ela retribuiu, mas seu sorriso logo se transformou em uma leve tristeza:
- Mas... E se eu não sair daqui?
- O que é isso Angélica? Você mesma acabou de dizer que precisamos ser otimistas, como você pode dizer uma coisa dessas?
- Ah, Ricardo! Não sei, devemos ser otimistas sim, mas nós devemos pensar em todas as possibilidades. Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz. Arranje outra mulher, e tenha muitos filhos com ela, viu? Você vai ser um ótimo pai!
Eles sorriem juntos. Ricardo segura bem mais firme em sua mão:
- Você vai sair daqui sim, viu? Você vai sair, nós vamos casar e ter muitos filhos.
A nossa família vai ser grande, vai ter um monte de crianças correndo pela casa do jeito que você sempre quis.
Ela sorri:
- Crianças, e muitos bichos! Você sabe que eu amo bichos, não é?
- Não é à toa que você está fazendo veterinária.
Eles riem juntos. Angélica então, olha para a porta que se abre lentamente:
- Olha! Meus pais, eles vieram!
Ricardo sente um calafrio percorrer sua espinha. Ele olha para a porta do quarto que estava agora escancarada e sente um frio mais que o normal. Foi quando algo lhe chamou a atenção. Aquele maquinário todo começou a apitar enquanto ele sentia Angélica apertar forte sua mão. Ele olhou para ela. Ela estava pálida e com os olhos arregalados. Ricardo começou a gritar desesperadamente pelos médicos pedindo para que eles viessem ver o que estava acontecendo. O pior havia acontecido. O coágulo havia estourado e Angélica precisou ir urgente para a sala de cirurgia.
Eram três horas e quarenta e cinco da tarde quando a cirurgia começou. Era uma cirurgia que levaria umas três horas. Mas, foi às quatro horas e cinquenta e três que as atividades cerebrais de Angélica pararam, e as máquinas apitaram em um bip constante. Angélica acabara de morrer.
Ricardo estava desconsolado agora. Durante o velório da moça, ele precisou ser amparado, passou mal e teve de ir parar no hospital. Ele não conseguiu ver o sepultamento de sua noiva, passou longos dois meses bastante deprimido e a base de remédios, mas ele sempre se lembrava do que Angélica lhe disse no leito:
Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz. Arranje outra mulher, e tenha muitos filhos com ela, viu? Você vai ser um ótimo pai!
Essas doces palavras suavam em sua mente. Quando ele dormia, ele sonhava com Angélica. No sonho, ela pegava em sua mão e dizia exatamente estas palavras:
Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz.
Ele continuou na faculdade, e lá, ele conheceu outra moça, onde inicialmente, tornaram-se amigos, e os sonhos recorrentes com Angélica começaram a se tornar menos frequentes, mas ele ainda sonhava com a imagem borrada de Angélica, e cada vez mais baixo, ela repetia a mesma frase para ele. Era a hora de ele seguir, para que sua amada Angélica seguisse em paz.
Passaram-se mais alguns meses, e Ricardo estava namorando aquela bela moça chamada Isis. Isis era uma garota legal, que lhe ajudou a sair da depressão e fazia de tudo para que ele fosse novamente um rapaz feliz.
Passaram-se alguns anos, e eles estavam formados e de casamento marcado. E foi no dia de seu casamento, que Ricardo viu Angélica pela última vez. Na hora da entrada da noiva, ele pôde jurar que viu ao lado de Isis o pai dela que a conduzia até o altar, mas atrás deles, estava Angélica, que desapareceu como uma fumaça antes mesmo de chegar ao altar. Ele não sentiu medo, só sentiu que a partir daquele momento, sua amada havia seguido em paz. E foi a partir daquele dia, só depois daquele dia, que Ricardo nunca mais sonhou com ela, e conseguiu levar uma vida feliz ao lado de Isis.
Seu namorado Ricardo, homem com quem ela namorava a três anos e recentemente haviam ficado noivos, estava agora ali, ao lado dela segurando sua mão delicada e fraca.
-- Angélica, eu estou aqui. Sou eu, o Ricardo. Você pode me ouvir?
A moça suspirou e deu um leve gemido cansado:
Claro! Posso te sentir, te reconhecer. Só não faço ideia de quanto tempo estou aqui.
Ela disse com voz fraca.
-- três semanas. Você ficou em coma, perdeu muito sangue, e a notícia que você havia despertado foi uma alegria para nós, para todos nós.
ele enxuga disfarçadamente uma lágrima. Ele não quer que sua noiva perceba toda sua apreensão.
- Cadê a minha mãe? Meu pai? Eles não vem me ver?
Ela pergunta. Ele congela. Seus pais haviam morrido no acidente e já tinham sido velados e sepultados a muito tempo.
Toda vez que saía para trabalhar, Angélica aproveitava para deixar seus pais no ponto onde eles pegariam o ônibus da empresa, que fazia uma rota totalmente diferente do trabalho dela. Porém, eles nunca chegaram à empresa, assim como Angélica nunca chegou ao trabalho. Estava ali, internada entre vida e a morte, sem saber que seus pais já haviam partido.
Ricardo suspirou, disfarçou e deu-lhe uma resposta:
-- Eles virão, é preciso que você tenha um pouquinho só de paciência e eles logo estarão aqui.
A mulher gemeu mais uma vez
- Minha cabeça dói muito!.
Eu sofri alguma coisa grave?
- Bem...
Ricardo diz:
- Você sofreu um traumatismo craniano querida, e isso não é tão simples. Os médicos estavam até achando que você perderia a memória, mas graças a deus você está reagindo muito bem.
Ela sorriu:
- Isso significa que eu irei sair daqui, nós iremos casar e ter os nossos tão sonhados filhos, não é?
Ricardo soluça. as lágrimas agora foram inevitáveis:
- É tudo que eu mais quero querida.
Ele continua a chorar. O motivo de seu pranto era uma mistura de emoção e medo. Ele lembra bem do diagnóstico que o médico havia lhe dado sobre um coágulo que se formou em seu cérebro que se fosse operado, colocaria em risco a vida dela, e a moça estava tomando anti--coagulante na veia para ver se aquilo seria desfeito, ou se a bomba relógio em seu cérebro iria explodir.
A esperança da medicina era que sim, que as drogas anticoagulantes fizessem efeito. Daqui a umas duas horas, ela passaria por uma tomografia para ver o estado do coágulo.
- Não chore querido! Precisamos ser otimistas!
se eu acordei e estou aqui, significa que temos muito o que viver. Você vai terminar a sua faculdade de economia, eu vou terminar a minha em veterinária, e nós vamos ser muito felizes.
Você confia em mim?
Ela pergunta com aquela fraca voz:
- Sim meu amor, eu confio.
Ele inclina-se, e beija levemente seus lábios. Ela sorri:
- Parece que foi ontem que nós estávamos nos beijando tão intensamente. Parece que foi ontem que estávamos acordando juntos lá na sua casa.
- Mas em breve, teremos tudo isso de novo. Nós vamos viajar, lembra? Eu nãoo me esqueci daquela viagem que você quer fazer, só eu e você.
Ele sorriu. Ela retribuiu, mas seu sorriso logo se transformou em uma leve tristeza:
- Mas... E se eu não sair daqui?
- O que é isso Angélica? Você mesma acabou de dizer que precisamos ser otimistas, como você pode dizer uma coisa dessas?
- Ah, Ricardo! Não sei, devemos ser otimistas sim, mas nós devemos pensar em todas as possibilidades. Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz. Arranje outra mulher, e tenha muitos filhos com ela, viu? Você vai ser um ótimo pai!
Eles sorriem juntos. Ricardo segura bem mais firme em sua mão:
- Você vai sair daqui sim, viu? Você vai sair, nós vamos casar e ter muitos filhos.
A nossa família vai ser grande, vai ter um monte de crianças correndo pela casa do jeito que você sempre quis.
Ela sorri:
- Crianças, e muitos bichos! Você sabe que eu amo bichos, não é?
- Não é à toa que você está fazendo veterinária.
Eles riem juntos. Angélica então, olha para a porta que se abre lentamente:
- Olha! Meus pais, eles vieram!
Ricardo sente um calafrio percorrer sua espinha. Ele olha para a porta do quarto que estava agora escancarada e sente um frio mais que o normal. Foi quando algo lhe chamou a atenção. Aquele maquinário todo começou a apitar enquanto ele sentia Angélica apertar forte sua mão. Ele olhou para ela. Ela estava pálida e com os olhos arregalados. Ricardo começou a gritar desesperadamente pelos médicos pedindo para que eles viessem ver o que estava acontecendo. O pior havia acontecido. O coágulo havia estourado e Angélica precisou ir urgente para a sala de cirurgia.
Eram três horas e quarenta e cinco da tarde quando a cirurgia começou. Era uma cirurgia que levaria umas três horas. Mas, foi às quatro horas e cinquenta e três que as atividades cerebrais de Angélica pararam, e as máquinas apitaram em um bip constante. Angélica acabara de morrer.
Ricardo estava desconsolado agora. Durante o velório da moça, ele precisou ser amparado, passou mal e teve de ir parar no hospital. Ele não conseguiu ver o sepultamento de sua noiva, passou longos dois meses bastante deprimido e a base de remédios, mas ele sempre se lembrava do que Angélica lhe disse no leito:
Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz. Arranje outra mulher, e tenha muitos filhos com ela, viu? Você vai ser um ótimo pai!
Essas doces palavras suavam em sua mente. Quando ele dormia, ele sonhava com Angélica. No sonho, ela pegava em sua mão e dizia exatamente estas palavras:
Se eu não sair daqui, eu quero que você seja muito feliz.
Ele continuou na faculdade, e lá, ele conheceu outra moça, onde inicialmente, tornaram-se amigos, e os sonhos recorrentes com Angélica começaram a se tornar menos frequentes, mas ele ainda sonhava com a imagem borrada de Angélica, e cada vez mais baixo, ela repetia a mesma frase para ele. Era a hora de ele seguir, para que sua amada Angélica seguisse em paz.
Passaram-se mais alguns meses, e Ricardo estava namorando aquela bela moça chamada Isis. Isis era uma garota legal, que lhe ajudou a sair da depressão e fazia de tudo para que ele fosse novamente um rapaz feliz.
Passaram-se alguns anos, e eles estavam formados e de casamento marcado. E foi no dia de seu casamento, que Ricardo viu Angélica pela última vez. Na hora da entrada da noiva, ele pôde jurar que viu ao lado de Isis o pai dela que a conduzia até o altar, mas atrás deles, estava Angélica, que desapareceu como uma fumaça antes mesmo de chegar ao altar. Ele não sentiu medo, só sentiu que a partir daquele momento, sua amada havia seguido em paz. E foi a partir daquele dia, só depois daquele dia, que Ricardo nunca mais sonhou com ela, e conseguiu levar uma vida feliz ao lado de Isis.
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