A fera na estrada deserta

  as contrações estavam cada vez mais fortes. Larissa estava com trinta e nove semanas e três dias de gestação quando o trabalho de parto começou. Era por volta
das nove da noite quando ela começou a sentir contrações de trinta em trinta minutos, mas ela decidiu ficar em casa e esperar as contrações chegarem a dez ou a
bolsa estourar, já que ela morava perto do hospital, mais ou menos uns vinte minutos de carro, ela não tinha com o que se preocupar.
  Agora já é uma e quinze da manhã e já faz quinze minutos que a bolsa estourou, e suas contrações já estavam de oito em oito minutos. Ela acordou o marido que
ela havia deixado dormir quando ele chegou por volta das dez do trabalho, e vendo que ele estava cansado, ela não havia lhe contado que ela havia entrado em trabalho
de parto. Mas a hora chegou, e ela precisava ir ao hospital. Estava em trabalho de parto ativo, e o pequeno Brian já não tinha mais o líquido que o protegeu durante
esses nove meses:
- Por que você não me disse que você estava passando mal, Larissa!?
O marido esbravejou quando soube que ela já estava a quatro horas em trabalho de parto. Ela nada disse, pois, estava sentindo mais uma contração dolorida que a
fazia gemer baixinho e respirar ofegante e profundamente.
  Muito nervoso, o marido pegou as malas dela que já estavam prontas e a mala do bebê e já colocou dentro do carro, saindo logo em seguida.
  Anderson estava dirigindo a quase cem quilômetros por hora naquela estrada vazia. Era uma descida, o que trazia um pouco de alívio para o jovem policial de trinta
e cinco anos. O velocímetro já estava marcando cento e dez por hora quando houve um súbito impacto  o policial perdeu o controle do carro por um momento, subindo
em um canteiro e batendo em uma árvore. O carro morre, e a mulher já nervosa pergunta:
 O que foi isso, Anderson? Você cochilou?
- Atropelei algo grande na estrada, acho que era um cavalo.
Ele disse, tentando fazer o carro ligar. Depois de algumas tentativas, o carro liga, mas ele estava atolado. O canteiro estava cheio de lama e mato, e parecia que
algum mato estava agarrado no carro, o impedindo de sair.
- Merda!
Esbravejou o policial, saindo do carro para ver se havia algo embaixo do veículo que estava o impedindo de sair, e tamanho foi seu desespero ao ver que os pneus estavam
atolados no canteiro lamacento.
- Aaaaai pelo amor de deus, ande logo, está doendo muito!
Gemeu a mulher dentro do carro, trazendo mais desespero ao coração do pobre homem
 que não sabia o que fazer com aquele carro atolado ali. Ele precisaria de alguém para empurrar o carro, mas quem? A estrada deserta, e os carros que passariam
por ali, não parariam para ele.
  Heis que de repente, Larissa deu um berro dentro do carro e Anderson correu para perto pensando que era já o seu bebê a caminho, mas o que ele viu, o deixou preocupado.
Sua esposa apontava para a mata oposta onde o carro estava. Um par de olhos vermelhos estava observando os dois de dentro da mata.
- Pelo amor de deus, a gente precisa sair daqui, tem um bicho esquisito olhando a gente Anderson, tira a gente daqui!
Chorou a mulher, aos berros. Sentindo-se impotente, Anderson entrou em seu carro e pegou a arma que ele carregava consigo e tirou do bolso o seu celular.
Ele ia tomar uma atitude quando eles ouviram um rosnado grosso, longo, inalando profundo ódio vindo de dentro da mata. Anderson tapou a boca de Larissa, que estava
gemendo com mais uma contração que lhe acometia:
- Larissa por favor, tente fazer o mínimo de barulho poss...
A fala de Anderson foi interrompida por um som familiar de farejar na porta do carro, bem do lado que eles estavam. Discretamente, o homem olha pelo vidro que estava
fechado e se conteve para não gritar. Um grande animal negro estava agaixado cheirando a porta do carro. Ele foi para a parte de trás do veículo e foi nessa hora
que Larissa o viu. Era um animal com um focinho longo e orelhas caídas do lado da cabeça. Eram  pontudas e sua boca era enorme, com presas que mal cabiam nela.
 Ele encostou seu terrível rosto no vidro de trás do carro, e seus olhos vermelhos pareciam duas lanternas que refletiam dentro do carro. A criatura estava encarando
os dois e abriu sua enorme boca soltando uma espécie de grunhido alto, e o carro parecia quase entrar em sua boca.
- meu deus, isso é um... Um lobisomem!
Disse a mulher nervosa, enquanto viam a criatura sair de cima do capuz  do carro e ficar de pé como uma pessoa, soltando um uivo alto, grosso e rouco, dando sua
primeira investida contra o carro. Larissa começou a gritar enquanto eles sentiam a criatura balançar o veículo parecendo querer virá-lo. Ele estava segurando nas
laterais do carro com o que pareciam ser mãos peludas, porém, com garras longas e afiadas. Ele sacudia o carro, rosnava e passava as garras no vidro, deixando profundas
marcas de arranhões:
- Faça alguma coisa, esse bicho vai matar a gente aqui dentro!
Larissa gritou, e se espremeu com a chegada de mais uma forte contração. Elas estavam vindo a cada três minutos e Anderson estava nervoso, mas tentava não demonstrar
isso a sua esposa. Calmamente ele pegou o celular e deu a arma na mão dela:
- Lari, olha só, escuta. Eu sei que você está com muita dor, mas eu preciso fazer alguma coisa. Fica com a arma, e se esse bicho quebrar esse vidro, você não perde
tempo e atira, viu! Atira! Eu vou pedir ajuda!
Ele larga a arma na mão dela e liga para a central de polícia:
- Capitão Gomes? Escuta, eu estou com a minha esposa aqui na estrada, ela está em trabalho de parto e tem um bicho querendo invadir nosso carro! É um bicho muito
estranho, mande viaturas pra cá agora porque esse bicho vai matar a gente!
Enquanto Anderson explicava ao capitão o que estava acontecendo, Larissa estava olhando a criatura se embrenhar no mato e respirou de alívio. Ela pareceu desistir
de investir contra eles:
- Eu atropelei esse bicho, perdi o controle e estou atolado aqui em um canteiro depois de bater numa árvore e não consigo sair daqui.
- A viatura já está a caminho.
Eles desligam. Larissa muito nervosa, olha para o marido e diz:
- Amor, a criatura foi embora, ver se tu consegue tirar o carro do lugar, vai ver, pelo fato de ele ter sacudido, as rodas desatolaram e a gente consegue sair.
Anderson suspirou. O raciocínio
 parecia óbvio e ele assim fez. Porém, na hora que ele ia virar a chave, ouve--se um impacto, e estilhaços de vidro se espalharam, e um enorme animal negro pulou
em cima de Larissa e já ia rasgar a sua barriga com suas garras, mas Anderson agiu rápido. Pegou a arma que caiu das mãos de sua mulher e atirou duas vezes contra
a criatura, que se afastou dando urros de dor.
- você tá bem? Você tá bem?
Perguntou o homem, agora já não contendo mais o nervosismo. Larissa está chorando, e chorando ela responde:
- Ele quer o meu bebê! Deixa os seus princípios policiais de lado e acredite, isso é um lobisomem, e minha avó sempre dizia que essas criaturas tem fome de recém-nascidos
porque não são batizados!
E após dizer isso, a mulher volta a gemer de dor. O intervalo entre as contrações estavam diminuindo, deixando Anderson ainda mais nervoso. Ao longe, eles ouviam
na mata a criatura urrar, ainda sentindo a dor dos tiros.
- Larissa, olha só. Eu vou te deixar aqui dentro do carro.
- O quê?
Ela pergunta assustada.
- Eu vou atrair essa criatura para longe de você. vou atirar, vou lutar, posso até morrer, mas em você e no nosso filho, essa criatura não toca.
Ele entrega outra arma para ela, e diz:
- Fique com isso caso você precise.
E sai do carro, largando Larissa sozinha. Ela passou para o banco do motorista e chorando, ela começou a fazer várias orações.
 Anderson se embrenhou na mata atrás da criatura. Ele estava disposto a qualquer coisa para salvar sua esposa e filho que estava nascendo. Enquanto isso, no carro,
Larissa grita ao ver aquela criatura pular na parte da frente do carro. Ela atira contra o vidro, e acerta a criatura. Ela atira mais duas vezes e a criatura foge
pra mata. Urros e tiros puderam ser ouvidos de dentro da mata, enquanto Larissa gritava dentro do carro por causa de suas contrações.
  Anderson
Estava em cima de uma árvore, e a criatura estava embaixo da árvore em que ele estava tentando subir. Ele atira, e acerta a criatura por mais três vezes, dois no
meio da testa e um pegou de raspão na orelha. A criatura cambaleou e caiu, e Anderson permaneceu em cima da árvore. Passaram-se uns vinte minutos quando ouve-se
sirenes ao longe
  Os policiais conseguiram desatolar o carro da lama, e encontraram Anderson na árvore, e mais à frente, o corpo de um homem com várias marcas de tiro.
- Como você explica isso Anderson?
Perguntou o capitão.
- Ele tentou nos assaltar. Aproveitou que nós estávamos no carro e tentou nos assaltar. O animal já tinha se afastado, se embrenhou na mata, por isso ele tentou
nos assaltar. Eu apontei a arma, e foi onde o bicho apareceu de novo e ele correu. Eu atirei e corri pra mata dizendo a minha esposa que eu iria distrair o bicho
para que ele não a matasse, e de cima dessa árvore, eu atirei no bicho, só que eu acho que o ladrão estava na mata e eu acabei o acertando também.
A história convenceu os policiais, já que Anderson sabia que essa história de lobisomens não iria colar. Mas ele sabe o que ele viu. Ele sabe que o homem morto,
era a criatura que tentou matar ele, sua esposa e seu bebê ali, naquela estrada.
  Larissa foi levada ao hospital. Era três e meia da manhã com nove centímetros de dilatação, faltando um para o bebê nascer.
  Brian nasceu às quatro da manhã, e Anderson estava presente durante todo o momento, e cortou o cordão que unia seu filho à mãe.


  A polícia ambiental nunca soube a resposta para que tipo de criatura teria atacado o casal dentro daquele carro e o caso foi encerrado. Somente Anderson e Larissa sabem o que viram, e por mais que ele nunca tivesse admitido para a sua esposa, ele acreditava, agora ele acreditava na existência dos lobisomens, pois ele viu e matou um, porém, ninguém acreditaria em sua história, talvez, seu filho quando crescesse, acreditaria.

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